quarta-feira, 31 de outubro de 2012

DILUINDO FRONTEIRAS: A TELEVISÃO E AS NOVELAS NO COTIDIANO (PARTE 2)


            
                     Das remotas dunas de Agadir à contemporânea selva carioca

  As novelas surgiram praticamente junto com a TV no Brasil, mas só conquistaram audiência significativa entre as décadas de 60 e 70, quando a Rede Globo começou a investir nelas, não só como propaganda, mas como forma de entretenimento. Anteriormente a isso, as novelas eram inspiradas nas soap operas norte americanas que eram propagandas destinadas às donas de casa.
  No início, as novelas eram transmitidas apenas duas vezes por semana devido a falta de interesse, e foi a partir de 1962 que elas passaram a ser transmitidas diariamente, mas ainda eram “importadas”  de outros países da América do Sul. Os escritores brasileiros tinham apenas o trabalho de fazer adaptações da obra para a realidade do país.
  Foi com a chegada de Glória Magadan na globo que isso mudou. Ela era escritora de radionovelas, cubana, contratada da Colgate- Palmolive e Gessy Lever, e até então trabalhava fazendo as novelas da TV Tupi.
  As primeiras novelas eram gravadas sempre em ambientes fechados, e era usada uma linguagem formal. Foi em 1968, quando a TV Tupi transmitiu a novela Beto Rockefeller que isso mudou. A novela explorava ambientes abertos e a sua linguagem era coloquial, descontraída. As novelas, a partir de então, foram trazidas para o universo contemporâneo das cidades grandes brasileiras.
  Foi inspirado nessas inovações trazidas pela TV Tupi que a Rede Globo produziu, em 1969, a novela Véu de Noiva. Nesse mesmo ano, a emissora também fez a primeira transmissão do Jornal Nacional, programa esse que garantiu recordes de audiência desde sua criação. O JN foi o primeiro programa que tinha transmissão simultânea no Brasil inteiro, sendo que seu sinal chegava nas partes mais remotas do país, onde ainda não existia a energia elétrica.
  A Rede Globo desde sua primeira novela genuinamente brasileira firmou um compromisso de sempre se inovar, sendo que a cada nova novela produzida, deveria haver uma novidade, algo que não tinha em nenhuma das anteriores. Sempre tentando alcançar a modernidade, as novelas faziam e fazem até hoje merchandising, não só de caráter consumista, mas também divulgam trabalhos de ONGs, sendo esse o merchandising social. Isso tudo pra mostrar “o Brasil que se moderniza”.
  Além disso, as novelas tem um certo caráter social que busca discutir assunto que estiverem em voga na época da exibição. Elas, por exemplo, mostraram a evolução da mulher diante à sociedade.
  Juntando o caráter das novelas, a discussão dos tabus, a modernização do Brasil e ainda tendo espaço pra romance e, às vezes, humor, pode-se dizer que a Rede Globo tem a receita perfeita de fazer novelas e, por isso, elas constituem o “principal produto” da emissora, produto esse que influencia na vida dos telespectadores de forma positiva ou não.

Seminário 5 - Diluindo fronteiras: a televisão e as telenovelas no cotidiano.

                                         
                             Esther Hamburger é professora de Comunicação e Artes da USP e crítica de TV. Além de antropóloga, colunista do Jornal Folha de São Paulo e editora da Revista Trópico.


                          “As pessoas estão interessadas em crescer intelectualmente e vão prestigiar uma programação que as desafie nesse sentido.”
                          “Acredito que deveria haver uma disciplina obrigatória no currículo escolar que visasse algo como uma ‘alfabetização audiovisual’ e que incluísse teoria e prática.”

              
                         No Brasil, os televisores tiveram grande difusão. Em pouco tempo, a TV chegou a muitas regiões do país, até nos lugares mais longínquos e precários, como na zona rural e nas favelas. Com a grande disseminação da TV, vieram as oportunidades de se eliminar obstáculos sociais e geográficos. As informações e o entretenimento, por exemplo, passaram a chegar a domicílios de pessoas mais pobres e excluídas socialmente. A TV deixou de ser restrita a um pequeno grupo de indivíduos privilegiados: intelectuais, ricos, entre outros. Pessoas de diferentes sexos, regiões, gerações e classes sociais começavam a poder se posicionar e se situar uma em relação às outras.

                       Apesar dos pontos positivos, a TV naquela época e hoje ainda apresenta aspectos negativos. A super-representação de brancos em relação a negros transmitida em novelas ou até mesmo em programas fomentou e ainda fomenta a discriminação racial.
                      Em 1950, Assis Chateubriand (jornalista, empresário e político) inaugurou a extinta TV Tupi na cidade de São Paulo. Posteriormente, foi criada as Emissoras Associadas com filiais da Tupi em vários estados do país. Fato que ajudou a emissora a ganhar mais popularidade ainda.
                     Nasciam na mesma época outras emissoras. Em 1952 a TV Paulista, em 1953 a Record, em 1954 a TV Rio, em 1956 a TV Italacomi de Belo Horizonte.

                     Os símbolos de algumas emissoras eram bem conhecidos e tinham todo um significado. O da tupi era a figura de um índio com antes na cabeça. Representava quem está pronto para receber informações, entrar numa nova era de comunicação, sem ter medo de ser engolido pelas novidades.  Já o da Rede Globo remetia à globalização, à figura de quem está apto a receber e transmitir imagens para o mundo todo.

                     Dentro da programação das TVs, as telenovelas eram o que havia de mais popular, era aquilo que o público mais tinha aceitação e identificação. Por conta disso, elas tiveram e ainda têm muito poder influenciador. Seja para disseminar novas modas e estilos, colocar em pauta assuntos polêmicos. O êxodo rural também foi influenciado pelos folhetins, além da diminuição do número de filhos por família, o aumento do mercado de consumo e mais. As novelas sempre estiveram num plano futuro, exibindo e levando os telespectadores para aquilo que ainda estava por vir.
                    Na novela Vale Tudo transmitida em 1988 pela Rede Globo teve em uma de suas últimas cenas, um empresário corrupto que fugia do país sem ser punido. Situação que se repetiria por muitas vezes na vida real, dentro principalmente do nosso cenário político.


                  Nos anos 80, um acordo entre Embratel, Globo e Bandeirantes permitiu com que os sinais das Tvs fossem captados por todo o Brasil, através de antenas parabólicas. Consequentemente, houve o crescimento na indústria de parabólicas. O sucesso das telenovelas era tanto que em 83 apenas 23% da programação era importada.

                 Na década de 90, entretanto, a disputa por audiência entre as TVs de canal aberto e o nascimento da TV a cabo ocasionaram a queda de audiência das telenovelas.
Mais tarde, elas voltaram a ter muito sucesso e grande audiência. Muitas das novelas foram transmitidas em diversos países. Tanto que a Rede Globo passou a ser apontada como ameaçadora da identidade cultural, da heterogeneidade dos povos.

                                                                         Grupo: Agnes Nunes, Bruna Diniz e Shirlley Lopes

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Cultura e política: os anos 1960-1970 e sua herança - Marcelo Ridenti



Marcelo Ridenti 

É graduado em Ciências Sociais (1982) e em Direito (1983) na Universidade de São Paulo, onde se doutorou em Sociologia (1989). Defendeu tese de livre-docência na Universidade Estadual de Campinas (1999), na qual é Professor Titular de Sociologia desde 2005. Ingressou na UNICAMP em 1998, foi docente da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Araraquara (1990-1998), e da Universidade Estadual de Londrina (1983-1990). Atualmente, integra a Coordenação de Ciências Humanas e Sociais na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Foi Secretário Executivo da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS, 2004-2008). Tem experiência na área de Sociologia, atuando principalmente nos seguintes temas: cultura/ arte e politica/ esquerda brasileira/ intelectualidade brasileira/ pensamento marxista/ ditadura militar brasileira/ anos 1960. (Fonte: Currículo Lattes)


A década de 1960 talvez tenha sido a época de maior convergência revolucionária entre política, cultura, vida pública e privada. A rebeldia contra a ordem social vigente, e o desejo de uma revolução social, eram diálogos constantes nesse período. É são nas manifestações artísticas que esses “rebeldes” encontram uma, de diversas formas, para se expressarem. Partidos e movimentos de esquerda, intelectuais e artistas prezavam a ação para mudar a história e construir um novo homem. Esse novo homem seria aquele do passado, o autêntico homem do povo, o verdadeiro brasileiro. Vindo do interior do Brasil, ele não fora influenciado pala urbanização capitalista. Esse era o ideal de sujeito que os movimentos esquerdistas buscavam, a fim de construir uma nova nação. Exemplos desse homem seriam o indígena, o negro e os camponeses.

O processo de questionar a ordem social vigente no Brasil se enquadrou no “Romantismo Revolucionário Brasileiro”. Colocava-se à prova o problema de identidade nacional e política do povo brasileiro. Entre os traços em comum do romantismo brasileiro e o de outras nações estão: liberação sexual, busca por renovação, desejo de viver o momento, vida boêmia e a fusão entre vida pública e privada.

Antes do golpe de 1964, já existiam expressivas manifestações artísticas no Brasil. Muitas deles, já contestadoras da realidade. Uma delas foi o Teatro de Arena. Formado em 1956 através da junção do Teatro Paulista dos Estudantes (TPE) e, do então pequeno, Arena. Essa fusão gerou uma renovação da dramaturgia nacional. O novo Teatro Arena não buscava influência nas vanguardas estrangeiras, não queriam mais apenas importar peças de países ricos. Eles buscavam identidade própria, baseado na cultura brasileira e no “novo homem”. Era a nacionalização e popularização do teatro.

Além de referência cultural, o Teatro de Arena acabou se tornando um pólo de atração político. Lá, jovens engajados politicamente se encontravam para trocar ideias e discutir a realidade brasileira. Após o golpe de 64, o Arena viria a se tornar um centro de resistência cultural.

Outro centro importante de resistência e manifestação cultura do pré-64 foi o “Centro Popular de Cultura” (CPC). Ele foi criado no início dos anos 1960, da junção de dissidentes do Teatro de Arenas  e a UNE (União Nacional dos Estudantes). Ele tinha o objetivo de fazer uma arte popular em diversas áreas, como cinema, teatro, literatura, artes plásticas e música. Graças ao projeto UNE Volante – comitiva de dirigentes que iam aos principais centros universitários de todo o país, levando propostas políticas aos estudantes – o CPC conquistou 12 filias por todo o Brasil.



Um projeto ligado ao CPC e que representa claramente o “Romantismo Revolucionário Brasileiro” é a coletânea de poemas “Violão de Rua – Poemas para a liberdade”. Durante os três volumes, transparece a emoção dos poetas pelo sofrimento do próximo e a denúncia das condições de vida subumanas na cidade e no campo. O drama dos retirantes nordestinos e a reforma agrária são diversas vezes citados. Os poetas recusavam as ações de latifundiários, imperialistas e capitalistas. Nos poemas, podemos observar a idealização do homem do campo, simples, pobre. Esse mesmo homem considerado “ideal” para os movimentos esquerdistas.



A sétima arte também contribuiu com a reflexão sobre a realidade brasileira. O Cinema Novo, composto por cineastas e intelectuais como Glauber Rocha, talvez o maior expoente, fez deslanchar filmes independentes e de baixo orçamento com o slogan, “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça.”.

No conturbado período pós-golpe de 1964, os artistas usaram de seus espetáculos para fazerem protestos contra o governo. Estudantes e canais de representação política começaram a se inserirem em manifestações políticas a fim de lutarem em prol da liberdade.

Assim, a esquerda fortaleceu a cultura, tendo como o primeiro marco, o show Opinião, unindo teatro e música popular brasileira. O Opinião fez enorme sucesso, sendo representando por Zé Kéti, Nara Leão e João do Vale.

Show Opinião

Marcelo Ridenti também destaca o Teatro Oficina, originado por estudantes da USP, que ganhou força depois da encenação da peça de Oswald de Andrade O rei da vela, que expõe uma critica ao subdesenvolvimento e dependência externa do Brasil, que vai de encontro com filme Terra em Transe de Glauber Rocha, sendo seguida da peça de Chico Buarque Roda Viva, recriada por José Celso Martinez Correa. Com o Rei da vela coloca-se a questão da identidade nacional, construindo assim, o movimento chamado tropicalismo.

Roda Viva



A Tropicália, segundo Carlos Nelson Coutinho, foi formada pelas ideias de Glauber Rocha. O movimento era formado por artistas, principalmente da musica popular como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os mutantes entre outros de diversos campos da arte.


Rita lee (Os Mutantes) sobre o Tropicalismo: 



A contracultura era um dos pilares que influenciava o tropicalismo. Pregando mensagens como “paz e amor” e “faça amor, não faça guerra”, muito usados pelos jovens americanos em manifestações contra a Guerra do Vietnã.

O movimento hippie, com seu modo de vida alternativo também influenciou o movimento brasileiro. Hélio Oiticica foi o autor do termo Tropicália, um projeto ambiental que inspirou o movimento de mesmo nome.

Segundo o militante tropicalista Torquato Neto, o tropicalismo seria assumir tudo o que os trópicos podem dar, sem preconceitos.

Para Caetano Veloso, a palavra-chave do tropicalismo seria o sincretismo. O movimento juntava psicodelismo, moda, comportamentos hippies e música pop. Também se influenciaram pelo cinema, pelos Beatles e outros grupos de rock. As ideias antropofágicas dos modernistas “caíam como uma luva nos pontos de vista dos tropicalistas”. A cultura nacional que se formou, empenhava-se em constituir uma identidade nacional.

O autor insere trechos do livro de memórias de Caetano Veloso, Verdade Tropical, no qual o tropicalista fala sobre os anseios dos participantes do movimento, da “identificação poética” deles com a esquerda e de seus exílio em Londres.



Em 1968 é decretado o Ato Institucional nº 5 (AI-5), conhecido como o golpe dentro do golpe, endurecendo mais ainda o regime. Vários estudantes, intelectuais, artistas e políticos foram torturados, casados ou forçados ao exílio. A imprensa foi duramente censurada assim como qualquer contestação ao governo. Surge o slogan, “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

A agitação cultural e política no mundo durante a década de 60 ligava-se a uma série de fatores comuns em diversas sociedades como a crescente urbanização, aumento da classe média, maior acesso ao ensino superior (predominância de jovens na população), conservadorismo político e o avanço tecnológico (que possibilitaram mudanças de comportamento da população), levando-se em consideração as especificidades locais, como a luta pelas reformas de base antes do golpe de 1964 no Brasil e a luta armada em decorrência deste. Essas ligações por si só não determinam a existência das diversas ações inovadoras nos campos referidos, mas mostram-se como uma espécie de base para estas.

Essas ações tinham como princípio norteador aproximar a política e cultura do dia-a-dia através do fortalecimento da imaginação, dando origem a movimentos libertários (principalmente em 1968), que continham no seu âmago características comuns como a ascensão da ética da revolta e da revolução (desobediência civil), novas doutrinas revolucionárias, negação da sociedade de consumo (guerras imperialistas), crise no sistema educacional e político (conservador) e principalmente a ânsia por liberdade pessoal e coletiva responsável pelo surgimento de diversos movimentos pelos direitos civis.

Assim ao analisarmos estes movimentos é possível encontrarmos, principalmente no cenário brasileiro onde a industrialização era recente e a classe dominante ainda era profundamente arcaica e aristocrática, certa evolução dos ideais modernistas no início do século passado.

Após a derrota das esquerdas brasileiras e as mudanças políticas internacionais durante a década de 70, ideais como o da proximidade de uma revolução social e a utilização de novas tecnologias como forma de libertação dissiparam-se levando consigo o ensaio geral de socialização da cultura e as demais ações ligadas a esta. Tendo o governo ditatorial (após uma série de movimentos repressores) criado órgãos e instituições (Ministério das Comunicações, Embratel, Embrafilme, Conselho Federal de Cultura entre outras.) e unindo-se a iniciativa privada, florescendo assim uma indústria cultural pautada principalmente no setor televisivo (Rede Globo), fonográfico, editorial e de propaganda visando à incorporação dos intelectuais oposicionistas e o ambiente cultural dominado pela esquerda, algo que se mostra efetivo até a abertura político-econômica no final dos anos 80. Isto ocorreu devido há uma série de concessões em relação à liberdade de criação e de mudanças na conduta destes intelectuais, considerando que neste momento históricos estes buscavam mais o apelo individual do que o social, adotando a mercantilização da cultura em detrimento aos objetivos dos movimentos contestadores da década anterior.

O ensino superior fortalece-se enquanto o 1º e 2º grau públicos transformam-se em obsoletos. A pós-graduação é incentivada desde que os seus beneficiários não se opusessem ao Estado, procurando viver em função do ambiente acadêmico. Os pedidos de modernização de certa forma são atendidos e conceitos como o da revolução sexual enraízam-se no sistema, adquirindo novos significados.

Com a Lei da Anistia (1979) e o Pluripartidarismo (1980) entre outras medidas que decretavam o fim do regime, ficou evidente a necessidade de reformulação da esquerda em relação ao valor da democracia, do individualismo, dos direitos civis (incluindo as minorias) e principalmente do conceito de cidadania.



Movimentos contestadores e o surgimento do Partido dos Trabalhadores (PT) (fundamentado no novo sindicalismo, nas Comunidades Eclesiais da Igreja Católica e de intelectuais e militantes dos antigos movimentos de esquerda), aliado a degradação do regime comunista soviético norteiam esse período de transição na história brasileira.



O auto-sacrifício em prol da revolução e do partido, perdeu força em detrimento da individualidade, criando-se novas alternativas. O antigo modelo de intelectual ou artista rebelde torna-se ultrapassado, os dilemas sobre privilégios de uns e a falta destes para outros, presentes no sistema capitalista são vistos como imutáveis (dogmas se estabelecem nas universidades, teoria e prática não se misturam, cultura e política se afastam do cidadão).

A institucionalização dos intelectuais e seus danos é visível, sendo que este termo ganha o significado de profissão. A arte contestadora torna-se artigo de luxo nas galerias, anseios por consumo surgem nas diversas classes da sociedade e o conservadorismo modifica-se ganhando fôlego novo.

Após o “Consenso de Washington” e o surgimento de uma Nova Ordem Mundial liderada pelo Estados Unidos, as antigas alternativas de contestação ficam pouco usuais e pequenos focos de resistência tentam manter vivos como o movimento Arte contra a Barbárie (1999) e diversos fóruns que visam usar a arte e outros meios para educar a sociedade divergindo da hegemonia cultura do pensamento neoliberal vigente. Mantendo vivo o desejo de diminuir a influência da cultura de massa, que contribui para a manutenção do sistema.





GRUPO (EM ORDEM ALFABÉTICA): ANDERSON CAMARGO, CHRISTIAN SILVANO E MARCO ANTONIO BARROS.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

SEMINÁRIO 4 - Bruna Ozuna Sonoda, Nicoly Bello e Thiago Ienco

CRISE DA DITADURA MILITAR E O PROCESSO DE ABERTURA POLÍTICA NO BRASIL, 1974-1985”, de Francisco Carlos Teixeira da Silva

Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em história moderna e contemporânea, Francisco escreve um capítulo do livro "O tempo da ditadura - regime militar e movimentos sociais do século XX" cuja coletânea se chama "O Brasil Republicano", organizado por Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado.

Os autores dos capítulos são historiadores que atuam em universidades e instituições de pesquisa de diferentes estados. Foram convidados levando-se em conta os critérios de pluralidade, especialidade e reconhecimento acadêmico. Sob o prisma da história política, social, cultural e econômica, eles sugerem hipóteses interpretativas que visam a contribuir com o esforço reflexivo sobre as peculiaridades da história do Brasil República, destacando a atuação dos sujeitos históricos que a construíram.

Ex-militante comunista, hoje trabalha junto ao Exército, levando o debate histórico para escolas militares. Ele retira das Forças Armadas a responsabilidade exclusiva pelo golpe de 1964. Por outro lado, não entende a resistência de alguns oficiais ao julgamento de torturadores.

Inicia a sua análise situando o contexto histórico das ditaduras militares na América do Sul, que surgiram por volta dos 60 e 70 e entraram em crise nos anos 80. Para Francisco, o entendimento do processo que levou os regimes do apogeu à bancarrota precisa ir além dos processos de crise, atores e condicionantes principais. O entendimento da "natureza" desses regimes é fundamental. 

A perestroika (reforma econômica) e a glasnost (reforma política) de Mikhail Gorbachev na URSS, ascensão de Jimmy Carter à presidência dos EUA em 1976 e a economia mundial são citados como atores e condicionantes externos. Entre os internos (referindo-se ao Brasil), Francisco cita o Projeto Golbery-Geisel e a expressiva vitória eleitoral do MDB (único partido de oposição com atuação autônoma, porém condicionada) em 1974. Para o autor, o contexto da Guerra Fria influenciou os EUA a incentivarem - até mesmo financeiramente - golpes que trariam a "estabilidade política" aos "países inclinados à esquerda". O apoio do empresariado e de setores religiosos - basta lembrar que o socialismo prega o ateísmo - também apoiaram os regimes em busca de "estabilidade".

Tratando mais especificadamente dos atores externos, a mudança de postura dos Estados Unidos quanto à sua política exterior foi tratada com grande importância. Francisco caracteriza Richard Nixon-Henry Kissinger como "fomentadores de golpes". Em 1976, Jimmy Carter assume a presidência e busca recuperar a credibilidade americana através de uma mudança na política externa após o fracasso na Guerra do Vietnã (1955-75). A defesa de valores éticos e morais, bem como de governos democráticos foi um dos pontos agora "abraçados" por Carter. A recuperação de credibilidade começaria pela própria imagem do presidente, abalada após o escândalo de Watergate (1973). O presidente deveria ser capaz de transmitir simpatia e confiança.

Ernesto Geisel (1906-1996) adotou uma postura nacionalista militar, com "a intenção de defender a soberania nacional". Posturas de Geisel como o reconhecimento da China Popular, Angola e Moçambique e a condenação de Israel na ONU podem ser interpretadas como uma afronta aos interesses norte-americanos. A influência dos EUA, porém, não pode ser considerada, sozinha, a única responsável pela conjuntura externa que enfraqueceu os regimes. Um período de crise e recessão da economia mundial, a alta assustadora do petróleo no período pós-Guerra do Yon Kippur (1973) e Irã-Iraque (1980-88) e a crise dos juros externos (1982) são outros fatores citados por Francisco.

O autor segue listando os principais conflitos internos que teriam possibilitado a abertura. Tanto as cisões ideológicas presentes no meio dos militares - com castelistas e liberalistas discutindo com frequência no âmbito político - quanto as dificuldades enfrentadas pela economia construída pelo regime. A pressão de setores da sociedade civil também é levada em conta.

Após o sequestro do embaixador norte-americano, em 1969 se observa uma resposta rígida do governo: aprovação da Lei de Segurança Nacional (pena de morte e o banimento de dissidentes políticos), criação dos DOI-Codis (responsável pela investigação e espionagem principalmente dos grupos revolucionários) e o aumento das operações da Polícia Militar.

O primeiro ato de enfrentamento entre o projeto oficial de abertura e a oposição, foi a sucessão do presidente Médici (1969-1974). O escolhido para a sucessão foi Ernesto Geisel, um general com experiência vasta na política. Dentro do plano militar Ernesto Geisel e o general Golbery do Couto e Silva deveriam organizar a constitucionalização do país, tendo como meta uma distensão lenta, gradual e segura. Esse projeto de abertura comportava garantias básicas para o regime: impedir a volta de pessoas para instituições anteriores; Incorporação de uma nova constituição e prolongar-se por pelo menos dez anos garantindo a sucessão de Geisel. Esse era o plano Geisel e Golbery.

No Brasil os militares liberalizantes não foram apoiados pela oposição como ocorreu em alguns países, pois para os oposicionistas o projeto de abertura seria muito lento da maneira planejada. Para os organizadores da abertura foi melhor que a oposição não colaborasse, pois com esse pensamento eles seriam um estorvo para os planos. Nas eleições de Geisel o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), em um primeiro ato de oposição lançou a candidatura de Ulisses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho. Geisel venceu as eleições. 

Porém nas eleições parlamentares disputadas em 1974 o MDB sai vencedor, elegendo 16 senadores e 187 deputados. Para o presidente do MDB esse foi o primeiro sinal de que o povo estava insatisfeito com o regime. Com a vitória da oposição o projeto de abertura fica abalado e nesse contexto aumentam os casos de violência. Alguns membros do poder militar diziam que o projeto de abertura estava sob controle e sendo monitorado todo tempo, mesmo perante todos os acontecimentos.

A violência e as mortes ocorridas nesta época revoltaram a população e fez com que uma parcela ainda maior da sociedade se tornasse contra o regime militar. Geisel intervém nesse problema rapidamente e com a intenção de acalmar os ânimos e punir alguém pelas mortes, o general demite o comandante Ednardo d’Ávila Melo, mas não busca os verdadeiros culpados. Em meados de 1976 a oposição começa os ataques à bomba no Rio de Janeiro. 

A população estava descontente com a lentidão da abertura e com a crise do petróleo, que após ser ignorada por quase dois anos começava a mostrar seus efeitos negativos. Nesse momento Geisel incumbe o ministro do planejamento, Reis Velloso, de organizar o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), plano que construiria hidrelétricas como uma fonte alternativa de energia, faria um acordo nuclear com a Alemanha, e daria ênfase ao Proálcool.

Agora com as vitórias, a oposição quer mais espaço e é quando aparece novamente a figura de Ulisses Guimarães, como a voz que enfrentava o poder em nome do MDB. Com o projeto de abertura cada vez mais ameaçado e a crise financeira e econômica avolumando-se, chega a hora de escolher um sucessor de Geisel e o indicado é João Baptista Figueiredo, este toma posse em 1979. 

O principal ponto da agenda de Figueiredo era a anistia. Depois que esse ponto foi solucionado, surgiu às lideranças sindicais, pois Figueiredo assumiu o governo em uma época de crise financeira, greves e reivindicações por melhores salários. Ainda neste cenário é que acontecem novos ataques à bomba e o mais grave ato terrorista do Brasil, o Riocentro. Perante a tudo isso Figueiredo nada fazia, assim criou-se um conflito interno no governo, o general Golbery foi demitido e desse modo o plano Geisel e Golbery ficava órfão.

 

 Já em fase final o povo saia às ruas, primeiro pela anistia e agora pelas eleições diretas com o apoio do PT. O país fica marcado pela sua inépcia na economia e pela impunidade dos que matam. Com a imobilidade de Figueiredo os partidos políticos assumem a frente da abertura. Em fase de novas eleições aparecem Paulo Maluf, José Sarney e Tancredo Neves. E em 1985 a chapa formada por Tancredo e Sarney, após algumas mudanças partidárias, é a vencedora. Tem inicio a Nova República.