Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em história moderna e contemporânea, Francisco escreve um capítulo do livro "O tempo da ditadura - regime militar e movimentos sociais do século XX" cuja coletânea se chama "O Brasil Republicano", organizado por Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado.
Os
autores dos capítulos são historiadores que atuam em universidades
e instituições de pesquisa de diferentes estados. Foram
convidados levando-se em conta os critérios de pluralidade,
especialidade e reconhecimento acadêmico. Sob
o prisma da história política, social, cultural e econômica, eles
sugerem hipóteses interpretativas que visam a contribuir com o
esforço reflexivo sobre as peculiaridades da história do Brasil
República, destacando a atuação dos sujeitos históricos que a
construíram.
Ex-militante comunista, hoje trabalha junto ao Exército, levando o debate histórico para escolas militares. Ele retira das Forças Armadas a responsabilidade exclusiva pelo golpe de 1964. Por outro lado, não entende a resistência de alguns oficiais ao julgamento de torturadores.
Ex-militante comunista, hoje trabalha junto ao Exército, levando o debate histórico para escolas militares. Ele retira das Forças Armadas a responsabilidade exclusiva pelo golpe de 1964. Por outro lado, não entende a resistência de alguns oficiais ao julgamento de torturadores.
Inicia a sua análise situando o contexto histórico das ditaduras militares na América do Sul, que surgiram por volta dos 60 e 70 e entraram em crise nos anos 80. Para Francisco, o entendimento do processo que levou os regimes do apogeu à bancarrota precisa ir além dos processos de crise, atores e condicionantes principais. O entendimento da "natureza" desses regimes é fundamental.
A perestroika (reforma econômica) e a glasnost (reforma política) de Mikhail Gorbachev na URSS, ascensão de Jimmy Carter à presidência dos EUA em 1976 e a economia mundial são citados como atores e condicionantes externos. Entre os internos (referindo-se ao Brasil), Francisco cita o Projeto Golbery-Geisel e a expressiva vitória eleitoral do MDB (único partido de oposição com atuação autônoma, porém condicionada) em 1974. Para o autor, o contexto da Guerra Fria influenciou os EUA a incentivarem - até mesmo financeiramente - golpes que trariam a "estabilidade política" aos "países inclinados à esquerda". O apoio do empresariado e de setores religiosos - basta lembrar que o socialismo prega o ateísmo - também apoiaram os regimes em busca de "estabilidade".
Tratando mais especificadamente dos atores externos, a mudança de postura dos Estados Unidos quanto à sua política exterior foi tratada com grande importância. Francisco caracteriza Richard Nixon-Henry Kissinger como "fomentadores de golpes". Em 1976, Jimmy Carter assume a presidência e busca recuperar a credibilidade americana através de uma mudança na política externa após o fracasso na Guerra do Vietnã (1955-75). A defesa de valores éticos e morais, bem como de governos democráticos foi um dos pontos agora "abraçados" por Carter. A recuperação de credibilidade começaria pela própria imagem do presidente, abalada após o escândalo de Watergate (1973). O presidente deveria ser capaz de transmitir simpatia e confiança.
Ernesto Geisel (1906-1996) adotou uma postura nacionalista militar, com "a intenção de defender a soberania nacional". Posturas de Geisel como o reconhecimento da China Popular, Angola e Moçambique e a condenação de Israel na ONU podem ser interpretadas como uma afronta aos interesses norte-americanos. A influência dos EUA, porém, não pode ser considerada, sozinha, a única responsável pela conjuntura externa que enfraqueceu os regimes. Um período de crise e recessão da economia mundial, a alta assustadora do petróleo no período pós-Guerra do Yon Kippur (1973) e Irã-Iraque (1980-88) e a crise dos juros externos (1982) são outros fatores citados por Francisco.
O autor segue listando os principais conflitos internos que teriam possibilitado a abertura. Tanto as cisões ideológicas presentes no meio dos militares - com castelistas e liberalistas discutindo com frequência no âmbito político - quanto as dificuldades enfrentadas pela economia construída pelo regime. A pressão de setores da sociedade civil também é levada em conta.
Após o sequestro do embaixador norte-americano, em 1969 se observa uma resposta rígida do governo: aprovação da Lei de Segurança Nacional (pena de morte e o banimento de dissidentes políticos), criação dos DOI-Codis (responsável pela investigação e espionagem principalmente dos grupos revolucionários) e o aumento das operações da Polícia Militar.
O primeiro ato de enfrentamento entre o projeto oficial de abertura e a oposição, foi a sucessão do presidente Médici (1969-1974). O escolhido para a sucessão foi Ernesto Geisel, um general com experiência vasta na política. Dentro do plano militar Ernesto Geisel e o general Golbery do Couto e Silva deveriam organizar a constitucionalização do país, tendo como meta uma distensão lenta, gradual e segura. Esse projeto de abertura comportava garantias básicas para o regime: impedir a volta de pessoas para instituições anteriores; Incorporação de uma nova constituição e prolongar-se por pelo menos dez anos garantindo a sucessão de Geisel. Esse era o plano Geisel e Golbery.
No
Brasil os militares liberalizantes não foram apoiados pela oposição
como ocorreu em alguns países, pois para os oposicionistas o projeto
de abertura seria muito lento da maneira planejada. Para os
organizadores da abertura foi melhor que a oposição não
colaborasse, pois com esse pensamento eles seriam um estorvo para os
planos. Nas
eleições de Geisel o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), em um
primeiro ato de oposição lançou a candidatura de Ulisses Guimarães
e Barbosa Lima Sobrinho. Geisel venceu as eleições.
Porém nas
eleições parlamentares disputadas em 1974 o MDB sai vencedor,
elegendo 16 senadores e 187 deputados. Para o presidente do MDB esse
foi o primeiro sinal de que o povo estava insatisfeito com o regime.
Com a vitória da oposição o projeto de abertura fica abalado e
nesse contexto aumentam os casos de violência. Alguns membros do
poder militar diziam que o projeto de abertura estava sob controle e
sendo monitorado todo tempo, mesmo perante todos os acontecimentos.
A
violência e as mortes ocorridas nesta época revoltaram a população
e fez com que uma parcela ainda maior da sociedade se tornasse contra
o regime militar. Geisel intervém nesse problema rapidamente e com a
intenção de acalmar os ânimos e punir alguém pelas mortes, o
general demite o comandante Ednardo d’Ávila Melo, mas não busca
os verdadeiros culpados. Em
meados de 1976 a oposição começa os ataques à bomba no Rio de
Janeiro.
A população estava descontente com a lentidão da abertura
e com a crise do petróleo, que após ser ignorada por quase dois
anos começava a mostrar seus efeitos negativos. Nesse momento Geisel
incumbe o ministro do planejamento, Reis Velloso, de organizar o II
Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), plano que construiria
hidrelétricas como uma fonte alternativa de energia, faria um acordo
nuclear com a Alemanha, e daria ênfase ao Proálcool.
Agora
com as vitórias, a oposição quer mais espaço e é quando aparece
novamente a figura de Ulisses Guimarães, como a voz que enfrentava o
poder em nome do MDB. Com o projeto de abertura cada vez mais ameaçado e a crise
financeira e econômica avolumando-se, chega a hora de escolher um
sucessor de Geisel e o indicado é João Baptista Figueiredo, este
toma posse em 1979.
O principal ponto da agenda de Figueiredo era a
anistia. Depois que esse ponto foi solucionado, surgiu às lideranças
sindicais, pois Figueiredo assumiu o governo em uma época de crise
financeira, greves e reivindicações por melhores salários. Ainda neste cenário é que acontecem novos ataques à bomba e o mais
grave ato terrorista do Brasil, o Riocentro. Perante a tudo isso
Figueiredo nada fazia, assim criou-se um conflito interno no governo,
o general Golbery foi demitido e desse modo o plano Geisel e Golbery
ficava órfão.
Já em fase final o povo saia às ruas, primeiro pela anistia e agora pelas eleições diretas com o apoio do PT. O país fica marcado pela sua inépcia na economia e pela impunidade dos que matam. Com a imobilidade de Figueiredo os partidos políticos assumem a frente da abertura. Em fase de novas eleições aparecem Paulo Maluf, José Sarney e Tancredo Neves. E em 1985 a chapa formada por Tancredo e Sarney, após algumas mudanças partidárias, é a vencedora. Tem inicio a Nova República.
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